Chega de Bullying

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Bullying: O Silêncio que Precede o Desastre

Bullying é um termo inglês, referente a atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que podem ser praticadas por uma ou mais pessoas, causando dor e angústia, intimidando e agredindo a vítima que não tem a capacidade de se defender, e geralmente fica à margem do grupo de pessoas que o agridem.

O ambiente onde ocorre o bullying é marcado pela violência, pelo medo e o silêncio dos demais membros do grupo que temem ser a próxima vítima dos ataques. Crianças que sofreram bullying podem se tornar pessoas negativas, com baixa autoestima e problemas de relacionamento. Um estudo vincula assédio na escola a 30% das depressões, onde vítimas de violência escolar têm o dobro de probabilidade de sofrer de tristeza patológica.

O Bullying é um Fenômeno Mundial

O bullying é um problema mundial e geralmente é praticado em grupos sociais diversos como: escola, faculdade, trabalho, vizinhança e família, onde os agressores utilizam de apelidos pejorativos para humilhar as vítimas. No México o debate sobre o bullying foi retomado após a morte de um garoto de 12 anos que foi empurrado no balanço por vários colegas do colégio que depois o arremessaram contra uma parede, o que o deixou em coma durante alguns dias antes de perder a vida. Outro caso marcante foi o de uma garota de 11 anos que relatou agressões sexuais e bullying em uma escola primária na Cidade do México. No Brasil o caso do Colégio Goyazes em Goiânia causou perplexidade e comoção nacional, quando um adolescente de 14 anos utilizou o revolver da mãe, uma policial militar do Estado de Goiás, para atirar 11 vezes e em várias direções na sala de aula que frequentava, acertando seis alunos, dos quais dois morreram.

Os maus tratos transcendem o ambiente escolar, e as novas tecnologias introduziram o assédio por meio das redes sociais. As estatísticas mostram, um aumento do número de casos de assédio cibernético onde a vítima continua sendo perseguida na internet e não vê escapatória para a questão.

A Banalização do Bullying

Rotineiramente ouvimos notícias de alunos hospitalizados por serem vítimas de maus tratos na escola, ou de casos onde a vida da criança corre risco, seja por agressão física, ou por tentativa de suicídio. A opressão ou a incompreensão, leva a criança a praticar atos extremos e violentos, que parte da sociedade prefere justificar com o velho discurso do “é coisa de criança”. O silêncio, as ameaças, as gozações e a exclusão fazem parte da vida escolar, em um ambiente onde crianças que não estão envolvidas diretamente com a situação preferem olhar para outro lado a fim de “não se meter com problemas”.

A imprensa só noticia os casos que acabam em hospital ou no cemitério, mas e os outros tantos, onde a criança sobrevive aos maus tratos com sequelas que podem perdurar para o resto da vida? Sequelas que destroem a autoestima da vítima, afetando seu rendimento escolar, suas relações presentes e futuras, e sua visão de mundo.

A Vítima do Bullying

A vítima do bullying é solitária e indefesa, internalizando a ideia de que qualquer tentativa de denuncia causará um desastre, podendo posteriormente manifestar a depressão e a raiva contida durante anos em um momento de fúria. Normalmente sofrem agressões, devido a características físicas (sobrepeso, baixa estatura etc.) ou possuem algo que provoca a inveja de outros alunos (possui melhor mochila, melhor tênis, melhor lanche etc.).

A constante violência psicológica a qual a vítima é submetida, é capaz de colocar os alunos em um estado mental de irrealidade. Agressores e agredidos passam a viver num universo onde as regras sociais e os parâmetros do bom senso não fazem mais sentido, nesse contexto, basta um passo para que uma vingança sanguinária se aconteça.

Não devemos criminalizar as crianças, mas trabalhar para que a escola, os professores e os pais fiquem atentos a algumas situações do cotidiano, já que muitas vezes estes adultos não dão importância às queixas da criança agredida ou não sabem do ocorrido.

Os adultos devem se atentar aos sintomas de crianças que são vítimas de assédio escolar tais como:

– Mudanças de comportamento (ansiedade, tristeza, irritabilidade, apatia, pesadelos, verbalização de culpa, perda de autocontrole, choro);
– Somatizações (dor de cabeça, de barriga, náuseas etc.);
– Recusa de em ir à escola, participar de excursões e demais atividades escolares;
– Queda do rendimento escolar;
– Problemas de relacionamento com os colegas.

 

 O Agressor

Geralmente a causa da conduta violenta da criança que pratica o bullying é uma educação calcada na ausência de limites, basicamente punitiva, onde o castigo, as ameaças, as intimidações, ou a agressão física, fazem parte do cotidiano desta criança, que e a partir daí interioriza que a violência é uma forma aceitável para se atingir um objetivo. Um menino educado à base de violência física ou psíquica aprenderá de forma inconsciente a vê-la como algo normal, e sem dúvida a exercerá contra os outros. Este tipo de agressor nunca pratica a empatia, nem tanto foi educado à luz da ética e dos valores necessários ao respeito às diferenças. Possui autoestima fraca, é impulsivo, egocêntrico, e geralmente tem resultados escolares ruins.

A Cultura do Bullying

O bullying, não se resolve somente com a emissão de advertências na secretaria da escola. Ele acontece também por olhares e meias palavras. O verdadeiro combate ao bullying deve ser focado na mudança de comportamento da sociedade, o que atinge diretamente uma cultura enraizada nos pátios das nossas escolas.

Precisamos refletir sobre os modelos nos quais educamos os nossos filhos. Estamos vivendo em uma sociedade desconectada, individualista e egocêntrica que educa as crianças com base na filosofia do “não tenho nada a ver com isso”, uma visão cômoda de tratar a situação. Uma sociedade onde os responsáveis dizem que não tem tempo para as crianças, deixando os filhos sozinhos, e se eximindo da responsabilidade de educar, passando esta tarefa única e exclusivamente para a escola.

Não se denuncia o bullying, simplesmente porque isso não está previsto nas regras implícitas que norteiam a conduta de qualquer agrupamento estudantil. É impressionante como a força da cultura do bullying está presente inclusive no ambiente universitário, onde estudantes “veteranos” humilham os novatos com o uso do deboche e da agressão, quando estes ingressam na faculdade, criando um ciclo onde estes alunos hoje maltratados, mais tarde encontraram uma forma de se vingar. É a “lei”: ou você se adapta ao sistema ou perece.

A questão é muito mais complexa do que parece e deve ser analisada sobre uma perspectiva do respeito aos direitos humanos, não pensando somente em punições. Geralmente se pedem penas mais duras ou o estabelecimento de novas penalizações, ou ainda a aplicação de procedimentos de atendimento psicológico. Não se deve ver a violência como resultado de uma doença e sim como consequência de um entorno social de decomposição, de convivência com a violência no seio familiar, submetendo a criança às severas leis do pátio escolar. Toda escola é a transfiguração do mundo, é um local de aprendizado do convívio social e acaba sendo o espaço de maior incidência dos casos de bullying. Infelizmente o ambiente escolar é o reflexo da sociedade violenta em que estamos inseridos, mas ali também estão pessoas que, com um maior envolvimento de todos os agentes sociais, podem se tornar cidadãos conscientes e humanos.