E o meio ambiente, como fica?

O valor do meio ambiente e da sociobiodiversidade brasileira é incalculável. Diante de tanta diversidade, da responsabilidade que o Brasil tem em nível mundial para a conservação ambiental e da importância socioeconômica da biodiversidade, como a eleição de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil vai impactar no nosso meio ambiente? As propostas de Bolsonaro mais ameaçam o meio ambiente do que se preocupam em conservá-lo ou protegê-lo, mesmo citando brevemente o “desenvolvimento agrícola sustentável” e a “promoção de energia renovável no Nordeste”.

Ao falar de fusão de ministérios e extinção de órgãos fiscalizadores, por exemplo, nota-se que as propostas do novo presidente do Brasil são muito negativas e que há desconhecimento sobre a importância e o papel de cada instituição. Vale lembrar que apesar de o presidente recém-eleito ter o poder de destinar recursos ou não ao meio ambiente ou, por exemplo, demarcar novas terras indígenas, algumas de suas decisões não são tão simples de ser implementadas. Muitas das propostas dependem da aprovação do Congresso, e isso significa saber dialogar, também, com a oposição.

Outro ponto de destaque no plano é a extinção de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ligados à fiscalização e à conservação do meio ambiente. Isso porque, para o presidente eleito, existe um “ativismo xiita ambiental” e também uma “indústria da multa ambiental” que devem acabar, e esses órgãos prejudicariam o produtor rural.

Dez pesquisadores brasileiros da Coppe/UFRJ, preocupados com os impactos do retrocesso ambiental que o Brasil pode sofrer, realizaram um estudo cujos resultados foram apresentados em uma das maiores publicações científicas sobre mudanças climáticas, a Nature Climate Change. O custo com o aumento do desmatamento, incluindo a possibilidade de até ter que comprar créditos de carbono para cumprir com sua parte na redução da emissão de gases do efeito estufa, é de US$ 5 trilhões até 2050. Esse é o pior cenário, de acordo com estudiosos do tema, pois não há controle do desmatamento e sim incentivos para a agricultura e pecuária predatória.

Esse custo foi calculado considerando o Acordo de Paris – do qual Bolsonaro defende a saída do Brasil. A importância do Acordo de Paris para o Brasil está em que, como ele tem efeito de uma lei internacional, as tomadas de decisões referentes ao meio ambiente devem ser com base no que é definido no acordo. Além disso, no caso brasileiro, existem algumas outras metas: reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005 até 2025; até 2030, essa taxa deve ser 43% menor; aumentar a participação de biocombustíveis em 18% até 2030; e também, até 2030, 45% da matriz energética deverá ser composta por energias renováveis, sendo necessário ter renovado 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e zerado o desmatamento ilegal na Amazônia.

Analisando também a fusão dos ministérios da Agricultura com o do Meio Ambiente, a questão do desmatamento, o enfraquecimento dos órgãos ambientais e a liberação da mineração em terras indígenas, se o que Bolsonaro defende em seu plano de governo se concretizar, o desmatamento na Amazônia vai aumentar consideravelmente, passando de 6,9 mil quilômetros quadrados para 25,6 mil quilômetros quadrados por ano, a partir de 2020. E quem diz isso são cientistas, ambientalistas, ex-ministros do Meio Ambiente e pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que são os responsáveis por monitorar o bioma na região.

O valor do meio ambiente e da sociobiodiversidade brasileira é incalculável, e deve ser prioridade numa agenda política de qualquer presidente da República. E além do presidente, saiba que você também pode fazer sua parte em tudo isso, não apenas cobrando medidas que não prejudiquem o meio ambiente, mas tendo atitudes sustentáveis no seu dia a dia, seja em sua vida pessoal ou profissional.

Deivison Pedroza
CEO Grupo Verde Ghaia – Presidente do Instituto Okiseno

Artigo originalmente publicado no Jornal Estado de Minas: http://impresso.em.com.br/app/noticia/cadernos/opiniao/2018/10/31/interna_opiniao,239268/e-o-meio-ambiente-como-fica.shtml